Lamego, Douro

04-04-2024

Perto das margens do Rio Douro ergue-se uma cidade antiquíssima e riquíssima do ponto de vista cultural, que alberga monumentos e tesouros nacionais e oferece maravilhosas vistas para os vales vizinhos. Terra de vinhos afamados, Lamego está hoje associada ao enoturismo, com hotéis dedicados ao culto do Vinho do Porto (onde é até possível dormir em pipas de vinho...) e experiências vínicas para todos os gostos e carteiras. Mas Lamego é muito mais do que isso: é cidade medieval, é terra habitada por árvores centenárias, é cenário de lendas, é palco de festas e romarias e berço de inúmeras iguarias gastronómicas. E depois, geograficamente, é abençoada por uma localização impar, com o cruzamento de rios e o desdobrar de vales transformados em vinhedos, que inevitavelmente conduzem ao Douro, o dominador comum de toda esta região. Lamego é por isso destino em si e ponto de partida para outras paragens (ou não fosse atravessada pela mítica N2) e conhecê-la é ficar mais perto da nossa identidade, revelada na autenticidade dos lugares e na histórica que estes contam. Nenhum roteiro ficará completo sem uma subida ao Santuário da Nossa Senhora dos Remédios, mas os pontos de interesse na cidade (e nas redondezas) são tantos que poderá tornar-se difícil visitá-los a todos. O melhor é deixar-se levar pela ruas e ir descobrindo a beleza dos locais à medida que estes se vão revelando, no alto de um monte ou no fundo de uma cisterna. Sempre com os olhos postos na paisagem.                         

🎧 another one goes by, The Walkman 

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS

Está confirmado: são mesmo 686 degraus desde a Avenida Dr. Alfredo de Sousa até ao Santuário da Nossa Senhora dos Remédios, erigido no topo do monte de Santo Estevão em 1750. A escadaria, que se desenvolve em nove patamares, permite desfrutar do parque envolvente, com os seus lagos e grutas, coretos e árvores que de tão altas parecem tocar o céu, e oferece vistas incríveis sobre a cidade que se desenha a seus pés. Em cada patamar há fontes, capelas e estátuas, que prendem a atenção e nos distraem do esforço da subida. Lá em cima, a igreja de estilo barroco dedicada ao culto de Nossa Senhora dos Remédios imprime uma grandiosidade impressionante ao conjunto monumental, classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1984. Para além do acesso pela escadaria, o Santuário é também acessível de carro, sendo ainda possível estacionar junto aos vários patamares e ir desvendando aos poucos a beleza deste local. Há mesas de piquenique espalhadas ao longo do parque e um bar de apoio e casas de banho num dos patamares, o que torna o local apetecível para piqueniques ou momentos de puro relaxamento. Junto ao santuário pode ainda ver-se o tronco de um castanheiro, com cerca de 700 anos, que apesar de já estar seco, continua a emprestar beleza e autenticidade ao local. Sem dúvida, 686 degraus que valem a pena.                

CASTELO DE LAMEGO

Do complexo do Castelo de Lamego fazem parte a Torre de Menagem, duas cercas (uma interna e outra externa, numa cota inferior), uma cisterna e duas portas (a porta do Sol, a Norte e a Porta dos Figos, a Sul) e passear pelas ruelas calcetadas, hoje feitas bairro, pelas quelhas íngremes e pelas vielas do centro histórico de Lamego é ser surpreendido por estes locais marcantes da nossa história. Com origens que remontam ao tempo da ocupação muçulmana (datando a cisterna e as muralhas do século XI), o castelo encontra-se bem preservado e é de fácil acesso. A Torre de Menagem tem uma entrada pelo piso térreo e no seu interior uma escadaria permite que os visitantes alcancem o seu topo, proporcionando vistas incríveis sobre a cidade e as paisagens circundantes. Mas a principal atração será mesmo a espetacular cisterna (uma das mais bem conservadas do país), a que é possível descer e onde a presença da água, recolhida das chuvas e conservada numa engenhosa construção em pedra, nos transporta de imediato para outros tempos. A Porta dos Figos é outra das imagens de marca da cidade. Com uma arquitetura inusual e uma cor marcante, a imagem de um arco sustentado por dois baluartes encimado por um curioso oratório, de um vermelho vivo, impressiona qualquer visitante e confere um caráter verdadeiramente especial a este complexo. O melhor será mesmo estacionar o carro (ou no parque junto ao Posto de Turismo ou no parque da Avenida Dr. Alfredo de Sousa) e percorrer toda a zona do Bairro do Castelo a pé, aproveitando para espreitar o comércio local.          

NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA PORTA DOS FIGOS

Junto à Porta dos Figos, nasceu o Núcleo Arqueológico, espaço bem conseguido em que se exibem vários vestígios da ocupação da cidade, desde o século I, destacando-se os objetos do quotidiano e as moedas do tempo da ocupação romana (séculos I a V). Conta ainda com um esqueleto bem preservado dos tempos em que o local foi afeto a cemitério (séculos IX a XI), posteriormente abandonado com vista à construção das muralhas da cidade. É um excelente complemento à visita ao Castelo e permite perceber a relevância da cidade através das sucessivas ocupações de que foi objeto ao longo dos tempos.       

SÉ CATEDRAL DE LAMEGO

Bem no centro da cidade, surge majestosa a Sé de Lamego, cuja construção se iniciou no ano de 1159 e que mistura vários estilos arquitetónicos de várias épocas (como a Torre do lado sul, marcadamente românica, o triplo Pórtico, manuelino, o claustro maneirista ou a capela-mor, do período barroco). Os painéis que Grão Vasco pintou para o altar-mor encontram-se atualmente no vizinho Museu de Lamego. Classificada como Monumento Nacional desde 1910, é de visita livre e, diria, obrigatória, para quem viaja até Lamego, pela sua importância histórica e pela sua imponente beleza.    


MUSEU DE LAMEGO

Instalado no antigo Paço Episcopal, este museu alberga um acervo surpreendente, com especial destaque para as obras de Grão Vasco, e conserva objetos classificados, desde 2006, como tesouro nacional (é o caso do sarcófago medieval). À data da nossa visita, o museu tinha sido objeto de obras profundas e por isso algumas das salas de exposição estavam ainda fechadas. Mesmo assim o acervo em exposição justificou bem a visita, tal como o próprio edifício, com uma história interessantíssima, como a do terreiro, cuja construção implicou que no século XV tivesse sido mandado desviar o curso do Rio Coura, de forma a que o espaço em frente ao paço ficasse mais amplo. O museu dispõe ainda de uma pequena loja com livros e vários objetos de merchandising.     


MUSEU DO DOURO

Situado na cidade de Peso da Régua, o Museu do Douro foi criado em 1997 e é todo ele dedicado ao património da Região Demarcada do Douro e dos seus vinhos, em especial do Vinho do Porto. O histórico edifício em que se encontra instalado (antiga Casa da Companhia Velha) encontra-se debruçado sobre o rio e acolhe uma exposição permanente muito bem conseguida, que permite vislumbrar um pouco da tradição das vindimas, bem como dos utensílios usados ao longo dos tempos. Tem também umas fantásticas maquinas de cheiros, que permitem aos visitantes ficar a conhecer alguns dos aromas que dão caráter aos vinhos da região, numa experiência sensorial muito interessante. No final, os visitantes podem ainda degustar um cálice de Vinho do Porto com vista para o Douro. O museu tem uma loja fantástica com produtos da região, incluindo os deliciosos rebuçados da régua. Sem dúvida, um museu a visitar e... saborear!      


COMER E FICAR NO DOURO

São inúmeras as opções de alojamento no Douro e, em particular, em Lamego. Para a nossa estadia de duas noites em família, optámos pelo Lamego Hotel & Life. De decoração depurada, em tons de areia e com apontamentos que nos fazem sentir em casa (as almofadas, os quadros, as mantas...), este boutique hotel proporciona um ambiente que convida ao relaxamento e ao bem estar. A começar pelo SPA. Com uma piscina interior, sauna, banho turco e zona de espreguiçadeiras, o destaque vai mesmo para o banho nórdico, aquela espécie de tina gigante em madeira com água bem quente em que apetece ficar para sempre e que é um verdadeiro bálsamo para o corpo e para a alma. De louvar a política de acesso no que respeita a crianças. Numa altura em que muitos hotéis não permitem o acesso de crianças a este tipo de infraestruturas, o hotel criou um sistema em que tanto adultos como crianças podem usufruir do SPA, ainda que com horários diferenciados. Uma solução de compromisso que nos pareceu excelente. Excelente é também o site do hotel, que tem imensas informações quanto aos locais a visitar, com localização GPS dos pontos de interesse e horário de abertura das atrações. Um verdadeiro mimo para quem gosta de planear o roteiro das visitas. Outro serviço que nos cativou de imediato foi o de piquenique. O restaurante do hotel prepara umas fabulosas cestas de piquenique com tudo, mas mesmo tudo, o que é necessário para desfrutar de uma refeição na natureza. Um verdadeiro luxo. Para além desta refeição, jantámos ainda um dia no bar do hotel, que serve refeições ligeiras, e tanto os pratos principais como as sobremesas estavam ótimos. O pequeno almoço, servido no restaurante, com vista para as vinhas, também é excelente, com a variedade habitual e produtos de qualidade. Por fim, quanto aos quartos, ficámos em 2 quartos comunicantes que achámos confortáveis, sentimos apenas falta de uma ou duas gavetas para arrumação e de um cofre que permitisse deixar objetos de valor em segurança durante as idas ao SPA. Em suma: um boutique hotel com uma oferta diferenciadora a merecer sem dúvida uma visita.

No que respeita à gastronomia local, não há como fugir à incontornável Bola de Lamego, mas a verdade é que toda a oferta na região é bastante forte. Na cidade há diversos restaurantes de renome, mas para quem não se importar de fazer os 16 quilómetros que a separam do Peso da Régua (de preferência pela cénica EN 226), o "Castas e Pratos" é obrigatório. Com uma decoração irrepreensível e uma atmosfera acolhedora, todo o tempo passado neste restaurante é puro deleite. Os pratos são incrivelmente  bem confecionados, a apresentação é excelente e o sabor uma verdadeira explosão para o palato, com especial destaque para as sobremesas, lindas de morrer e absolutamente deliciosas. A destacar ainda a carta dedicada aos mais novos, com a oferta de pratos de qualidade (sem alimentos processados...) para que também os mais pequenos possam desfrutar de uma excelente refeição. O serviço é atencioso e afável na medida certa e o tempo de espera é bastante curto. Tudo ingredientes para uma experiência maravilhosa. A repetir uma e outra vez.