
Lisboa, Belém
Com o pretexto de uma visita à exposição "O Castelo Surrealista" de Mário Cesariny, rumámos a Lisboa, num fim de semana soalheiro de inverno, sem grandes expetativas, para além das que uma tarde passada no Maat com bons amigos por si só nos oferecia. Tendo vivido em Lisboa (ainda que de passagem) e voltando à capital amiúde, confesso que a cidade tinha para mim perdido algum encanto. Por causa do trânsito caótico, pela falta de estacionamento, pelo amontoado de turistas em todo o lado, pelos preços especulativos, por um certo caos que parece todos contagiar e a todos deixar à beira de um ataque de nervos. Por isso quando acordei e saí para a rua bem cedo naquele domingo de manhã, e me deparei com uma Lisboa inundada de luz e silêncio, foi como se tivesse reencontrado a Lisboa da minha infância, essa Lisboa mágica do castelo e do planetário, dos jardins e das esplanadas. Foi de certa forma uma reconciliação com a cidade e, pela primeira vez em muito tempo, apeteceu-me ficar e demorar-me pelas ruas desertas e pelas praças amplas, povoadas apenas pelas sombras das árvores e pelo cheiro a maresia. Vista assim Lisboa é, de fato, deslumbrante. Belém, então, é uma joia, talhada a cinzel e deixada a resplandecer à beira Tejo. É claro que assim saída para a rua os meus passos me encaminharam logo para a Fábrica dos Pasteis de Belém, levando-me pela Calçada do Galvão, vizinha do Jardim Botânico Tropical, até àquela casa icónica, ainda despojada de turistas, mas já com as montras bem guarnecidas dos famosos pasteis. Daí até à Praça do Império é um saltinho e a vista é realmente estupenda: defronte, a fachada dos Jerónimos, resplandecente à luz da manhã, ao lado, o CCB, com os seus jardins e terraços e ao fundo, já com o Tejo aos pés, o Padrão dos Descobrimentos. Até que na paisagem emerge a Torre de Belém, roubando o leito ao rio e erguendo-se imponente em direção ao céu, que, generoso, devolve ao Tejo o seu reflexo. E finalmente, o nosso destino, o Maat, com a Ponte 25 de Abril ao fundo e o movimento das pessoas, que para cá e para lá, saboreiam o rio e povoam o horizonte. "É o chamado rio tejo pelo amor dentro", como no poema do Herberto Helder que tantas vezes li naquele terraço da casa em que vivi na Graça, com uma nesga de rio a espreitar por entre o casario. Que linda Lisboa vista assim.
🎧 Lana del Rey - A&W
MAAT
O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, nascido em 2016 à beira Tejo, é um museu de arte contemporânea que só pelo edifício merece uma visita. É composto por dois polos, o histórico edifício da Central Tejo (central termoelétrica que durante anos abasteceu toda a zona de Lisboa) e o edifício novo, da autoria da arquiteta britânica Amanda Levete. Este último, construído de raiz para o efeito, faz apelo à ondulação e ao brilho do rio, transpondo-os para as suas formas e para os materiais usados, criando com o Tejo uma dinâmica de movimento, parecendo uma extensão do próprio rio. No interior, cativa a gigante sala com uma rampa que como que envolve as exposições e permite várias abordagens e leituras das mesmas. À data da nossa mais recente visita ao Maat, estava patente neste espaço a exposição "Plug In" de Joana Vasconcelos, e poder ver a obra "Valkyrie Octopus" através daquela aproximação em espiral, foi de fato uma experiência incrível, amplificando a sala aquele efeito dos tentáculos do polvo a envolverem o espaço e os seus ocupantes. Para além desta sala, o museu dispõe ainda de outras salas de exposição, quer no edifício novo (onde estava patente a exposição de Mário Cesariny "O Castelo Surrealista"), quer no vizinho edifício da Central Tejo, que tem também uma arquitetura muito interessante. O Maat disponibiliza um serviço de visitas guiadas (com hora marcada, mas sem necessidade de reserva) e tem uma loja no interior (junto às bilheteiras) com a oferta habitual de catálogos de exposições, livros de arte e artigos de merchandising. Tem também uma cafetaria / restaurante onde é possível fazer refeições com uma vista deslumbrante para o Tejo. Sem dúvida um museu a visitar!
MAAT CAFÉ
Inserido no edifício do Maat, na fachada virada para o rio, encontramos o Maat Café & Kitchen. As janelas rasgadas sobre o tejo e a decoração do espaço (em especial da sala dedicada ao serviço de restaurante) são duas mais valias deste local. No nosso caso, e devido à hora da nossa visita, optámos por um brunch. Com vários menus disponíveis, opções não faltam e todas serão igualmente deliciosas. O ambiente é excelente, a vista magnifica e a comida, apesar de não ser surpreendente, cumpre com o que é esperado. Uma pausa revigorante num local único.
MUSEU DOS COCHES
Um clássico de Lisboa, o Museu dos Coches tem desde 2015 uma nova casa, desenhada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e afirma-se como um novo espaço público na cidade (nas palavras do próprio, "o museu não tem porta e relaciona-se para todos os lados"). O acervo deste que é o mais visitado museu do país é por demais conhecido, riquíssimo e vasto, e continua a atrair públicos de todas as idades. A atmosfera contemporânea do edifico, o enorme pé direito e os acabamentos em betão emprestam à exposição um novo brilho e tornam a visita mais apelativa. Pela sua proximidade ao Matt, é muito fácil conciliar a visita aos dois museus num só dia. Um verdadeiro ex libris de Belém.
PASTÉIS DE BELÉM
A fama desta casa, com quase 200 anos de existência, é bem conhecida e ultrapassa fronteiras. Gozando de uma localização privilegiada, bem no coração de Belém, é impossível não ficar rendido ao seu cartão de visita: o pastel de Belém. Com uma massa folhada incrivelmente fina e estaladiça e um recheio cremoso, esta iguaria come-se morna e coberta de açúcar em pó e canela. Há duas opções: comer no local, numa das várias salas, ou comprar para levar. Obrigatório é mesmo comprá-los aos pares, o primeiro servirá para saciar o apetite, o segundo para comprovar que este é mesmo o melhor pastel de nata do mundo!
FICAR EM LISBOA
É imensa a oferta de alojamentos em Lisboa. Desde hotéis de luxo a alojamentos locais mais modestos, a cidade oferece um cardápio incrível de sítios onde ficar e desfrutar das maravilhas que oferece. Nesta nossa visita ficámos num apartamento que o nosso amigo Miguel nos disponibilizou, junto a Belém, com todas as comodidades de um apartamentos recentemente remodelado, uma localização extraordinária e apontamentos que achámos deliciosos, como os livros de arquitetura e arte ali deixados numa estante. Mesmo em frente ao Jardim Botânico Tropical, será o ponto de partida ideal para explorar a zona nobre de Belém, mantendo o carisma dos bairros típicos lisboetas. Carisma não falta mesmo por estes lados, seja nas ruas, nos monumentos, nos velhos elétricos, ou até, no som do piano tocado pelo vizinho de cima a inundar o ambiente e a transformar o local num cenário digno de cinema europeu. Disponível no Airbnb, é uma ótima opção para ficar na cidade em família, com a mais valia de estar a dois passos da famosa Fábrica dos Pasteis de Belém. Garante por isso acesso ao melhor pequeno almoço do mundo: Pasteis de Belém quentinhos e estaladiços, acabados de fazer. Um alojamento com um cheirinho a Belém e canela...