Porto, Casa da Música
De volta ao Porto para a nossa visita anual a Serralves, decidimos desta vez ficar na zona da Boavista, bem perto da Casa da Música, para podermos fazer as duas visitas num só dia, Casa da Música de manhã e Serralves à tarde, numa espécie de intervenção cultural cirúrgica. É sempre maravilhoso regressar ao Porto, a cidade é realmente espantosa e tem tanta oferta que o melhor mesmo é eleger um ou dois alvos de cada vez e esperar que o tiro saia certeiro. E mais uma vez saiu. Serralves continua a ser um dos nossos museus de eleição e a Casa da Música revelou-se uma surpresa. O exterior, que já conhecíamos, não deixa antever a sua deslumbrante vida interior e passear pela zona circundante é sentir a vida da cidade, feita de tantas facetas que por vezes se assemelha a um caleidoscópio, desdobrado em imagens que se multiplicam mas que nunca perdem a sua singularidade. Uma cidade a descobrir meticulosamente, palmo a palmo, vezes sem fim.
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HOTEL DA MÚSICA
Para a nossa estadia de uma noite em família, escolhemos o Hotel da Música, no Mercado do Bom Sucesso. Um dos principais atrativos deste hotel é precisamente o de ficar dentro do edifício do Mercado, um dos históricos da cidade, que em 2013 foi objeto de obras profundas e de mercado de frescos passou a galeria comercial (dedicada essencialmente à restauração) e hotel. O conceito do hotel é todo ele voltado para a música (dada a sua proximidade à Casa da Música), com uma decoração dedicada ao tema e instrumentos dispostos pelos espaços comuns do hotel. Os quartos são confortáveis, as casas de banho têm uma configuração muito original sem sacrificar a funcionalidade e a atenção ao hóspede - revelada nas ofertas deixadas no quarto (biscoitos ou fruta e chocolates com o logotipo do hotel cuidadosamente dispostos em pedras de ardósia decoradas com claves de sol feitas em açúcar em pó) - é notável. O hotel dispõe de um restaurante (o Bom Sucesso Gourmet), onde são servidos os pequenos almoços e que funciona também ao almoço e jantar, com uma carta interessante e preços acessíveis. Para além deste restaurante, o próprio mercado conta com uma oferta muito diversificada de restaurantes e bares com um ambiente cosmopolita, para além de pequenas bancas com artigos regionais e produtos artesanais. Dispõe ainda de estacionamento com acesso direto ao hotel, pequeno mas bastante cómodo. Pela sua localização e excelente relação qualidade preço é uma ótima escolha para quem pretende conhecer o centro da cidade, ficando perto de vários pontos de interesse, como a Casa da Música, os Jardins do Palácio de Cristal ou o Museu Nacional Soares dos Reis.
CASA DA MÚSICA
A uma curta caminhada do hotel, fica precisamente a Casa da Música, um dos ícones da cidade, construída a pensar na Capital Europeia da Cultura (iniciativa que o Porto acolheu em 2001) mas que, após vários atrasos e conhecidas derrapagens orçamentais, veio a ser inaugurada apenas em Abril de 2005. O objetivo de criar uma sala de espetáculos que fosse ainda dotada de uma certa monumentalidade (em reverência à qualidade das obras a cuja apresentação se destina), mas que ao mesmo tempo fosse acessível à população, parece ter sido totalmente conseguido. Desde muito cedo que a Casa da Música revelou ter um efeito agregador da cidade, tendo gerado à sua volta toda uma dinâmica própria, sendo hoje habitada como um espaço comum da cidade (com skaters a fazer manobras na praça que se abre sobre a Rotunda da Boavista ou transeuntes a atravessá-la na sua rotina diária) ao mesmo tempo que acolhe no seu interior várias manifestações da Música de que é lar maior. O edifício em si, da autoria do Atelier Rem Koolhass, é colossal, e se por fora impressiona, uma visita ao seu interior é suscetível de fazer cair algumas crenças básicas no que respeita às leis da física, com vidros ondulados e tetos que parecem desafiar a gravidade. São várias as salas de espetáculo (sendo a sala principal, batizada de SUGGIA, a mais espetacular), mas o que mais impressiona são as salas multiusos, cada uma mais surpreendente que a antecedente, com pormenores e especificidades técnicas impressionantes. Para conhecer o edifício o melhor mesmo é fazer a visita guiada organizada pela Casa da Música (disponível em Português ou Inglês, às segundas, quartas e sextas feiras e aos fins de semana), que para além de proporcionar aos visitantes um roteiro pelos vários espaços interiores da Casa, com explicações detalhadas, desvenda ainda algumas curiosidades acerca da sua construção (como o fato de os dois órgãos da sala Suggia serem afinal falsos... meras réplicas de instrumentos verdadeiros). A visita tem a duração aproximada de uma hora, com bilhetes a 12€, e permite o acesso a locais que de outro modo o visitante dificilmente poderia conhecer. A Casa da Música dispõe ainda de uma pequena loja e de um restaurante e organiza vários eventos. Um equipamento cultural de referência.
SERRALVES
Regressar a Serralves, por mais vezes que se tenha visitado este que é um dos mais importantes museus de arte contemporânea da Europa, é sempre uma experiência marcante. Desta vez o mote do nosso regresso foi a visita à maravilhosa exposição da artista japonesa Yayoi Kusama, sobre a qual tínhamos elevadas expetativas, e não podíamos ter ficado mais maravilhados. Os cerca de 160 trabalhos da artista em exposição são como uma janela que se abre durante um vendaval, deixando o interior (o nosso) em grande alvoroço mas com aquela sensação eletrizante de renovação e descoberta que só a arte sabe transmitir. Os autorretratos, as telas gigantes que estimulam a sensação de infinito, as icónicas abóboras, as esculturas que prendem dezenas de pequenas bolsas de tecido com enchimento a peças de mobiliário ou outros objetos comuns e por fim o fascinante quarto repleto de grandes balões pretos cobertos de bolinhas brancas, fazem da exposição "Yayoi Kusama 1945 - Hoje", um delírio sensorial de que não apetece sair. Claro que, tratando-se de Serralves, a oferta é sempre diversificada e por isso, à data da nossa visita ao Museu, estavam patentes outras exposições, que apesar de não terem o fulgor da de Kusama, se revelaram interessantíssimas, como a exposição "Pré/Pós-Declinações visuais do 25 de Abril". Para além disso, o museu conta agora com uma nova Ala - a Ala Álvaro Siza -, com dois pisos de exposição e um piso de arquivo, que praticamente duplicou a área expositiva do museu, que passou a albergar a maior coleção de obras e maquetes de edifícios do arquiteto. A ligação entre o edifício original e esta nova ala é de tal forma subtil que mal se nota a transição. O grande destaque vai, claro, para a incrível janela triangular aberta sobre o parque, que se tornou já uma das imagens de marca do museu. Para além do restaurante, o museu dispõe ainda de uma cafetaria, de uma casa de chá, de uma livraria e de uma loja (para além do pop up store inteiramente dedicada a Yayoi Kusama). A visitar uma e outra vez.