Ilha do Sal, Cabo Verde
Visitar a ilha do Sal em Cabo Verde é mergulhar nos profundos contrastes que a marcam. De origem vulcânica, e situada a cerca de 570 km do continente africano, esta ilha apresenta paisagens marcadamente áridas e secas, que contrastam com a paleta exuberante de tons de azul do mar, sempre em constante mudança. Por ser uma ilha muito pequena, com cerca de 220Km2, é fácil percorre-la de norte a sul num só dia. Tão depressa estamos a ver miragens na Terra Boa, como a flutuar na água quente e salgada das salinas de Pedra Lume ou a deleitar-nos com as incríveis piruetas das crianças a saltar para o mar no pontão da praia de Santa Maria. Aqui e ali espreita a arte urbana, a colorir fachadas e a espalhar esperança, numa ilha fortemente marcada pela falta de recursos, para além dos que o mar proporciona. De gesto sereno e sorriso largo, as gentes da ilha recebem quem os visita com a generosidade de quem dá o melhor que tem, convidando quem chega a comungar do respeito pela natureza e a deslumbrar-se com ela. Essa natureza feita de lugares improváveis como a buracona ou o olho azul, e povoada de animais impressionantes como os tubarões-limão ou as tartarugas carettta caretta que por ali desovam. Uma natureza que aproxima e que atrai, feita de infinitos tons de azul, doce como o sal. Porque afinal o Sal é doce. O Sal é sab.
🎧 a garota não, o prédio mais alto
ESPARGOS E PALMEIRA
O Aeroporto internacional do Sal fica na capital, Espargos, e por isso à chegada é logo esse o primeiro contato com a ilha. Daí para Santa Maria, onde se situam a maior parte dos hotéis, o trajeto é rápido e fácil, cortando a ilha de Norte a Sul. Para a nossa volta pela ilha optámos por um dos passeio organizados pela SOLFÉRIAS (passeio de meio dia com um custo de 27€ por pessoa) e por isso tivemos oportunidade de voltar a Espargos e de subir ao Morro Curral, de onde se avista toda a cidade. Daí seguimos para Palmeira, vila piscatória onde chegam de barco a maior parte dos produtos consumidos na ilha, e onde pudemos passear pelas ruas à descoberta da arte urbana. São muitos os murais e há também algum comércio de produtos locais.
BURACONA E OLHO AZUL
A buracona é uma piscina natural de origem vulcânica, dotada já de algumas infraestruturas turísticas. À chegada somos recebidos por um guia que, após uma breve explicação sobre a história de Cabo Verde, nos convida a tirar uma fotografia junto à bandeira, que no final da visita nos é entregue num pequeno livro sobre Cabo Verde e suas ilhas e cujo valor reverte para uma das associações locais de solidariedade social. Há um circuito organizado (com um número máximo de turistas por grupo) e trilhos pré-definidos que circundam quer a zona da buracona, quer o olho azul, propriamente dito. O olho azul é uma gruta onde o reflexo do sol na água (por volta do meio dia, em especial) parece um olho de um azul intenso. Infelizmente não pudemos observar o fenómeno, porque no dia em que fomos estava enevoado e chegou mesmo a chuviscar. Ainda assim a paisagem natural por si só vale a pena.
TERRA BOA
Terra de aspeto desolador e inóspito, este pequeno deserto é também o local que oferece aos seus visitantes as famosas miragens. Não é possível olhar o horizonte sem lá ao fundo ver um espelho de água, que não existe claro, mas que parece mesmo mesmo estar lá! Foi aqui que nasceu um dos bairros mais pobres da ilha, onde não há (ainda nos dias de hoje), água canalizada, saneamento básico ou eletricidade e onde quem tem geradores vende a eletricidade aos vizinhos por uma pequena fortuna. É também a casa da associação "Apoio a Crianças em Terra Boa" que garante às crianças que por ali moram uma refeição quente por dia e que se assegura que as mesmas têm acesso à edução e a cuidados de saúde.
SALINAS DE PEDRA DE LUME
Não há como não ficar rendido a esta maravilha da natureza. As salinas situam-se na verdade na cratera de um vulcão extinto, que, em tempos, esteve ligada ao mar, possibilitando assim a infiltração de água, que devido à evaporação deixou no local um depósito enorme de sal-gema. Hoje o local encontra-se explorado turisticamente e por isso é possível entrar numa espécie de gigantesco lago salgado, onde é impossível ir ao fundo, e ficar por ali a flutuar. Difícil é depois voltar a por os pés no chão! Dizem os entendidos que 10 minutos de imersão em tais águas rejuvenescem uma pessoa cerca de 10 anos! Existem infraestruturas no local que permitem tomar um duche de água doce depois do banho salgado (com o custo de um euro por pessoa), bem como comprar alguns souvenirs, incluindo o famoso sal. Definitivamente a não perder.
BAÍA PARDA OU SHARK BAY
Entrar na água quente da baía, num cenário natural deslumbrante, e de repente ficar rodeado de tubarões é uma experiência maravilhosa a não perder. É certo que os tubarões são pequenos e inofensivos, mas ainda assim vê-los a uma distância tão curta impressiona. A água da baía terá uma altura máxima de 30 ou 40 cm e por isso os progenitores não conseguem entrar nestas águas, o que torna a experiência perfeitamente segura. Uma vez que é necessário caminhar sobre rochas e pedras soltas é recomendável o aluguer de crocs no local (cerca de 3 euros o par).
PRAIA DE SANTA MARIA
É o mais famoso cartão de visita da ilha. O mar é de um azul turquesa indescritível, mais parece pintado a aguarelas, e a areia, trazida pelos ventos do deserto do Saara é incrivelmente branca e muito muito fina, fazendo desta praia um cenário de sonho. A marcar a paisagem temos depois o pitoresco pontão, de onde partem os barcos de pesca e onde as mulheres amanham o peixe trazido do mar, enquanto as crianças se exibem em piruetas e acrobáticos saltos para a água. A cidade de Santa Maria, que dá nome à praia, foi fundada em 1835 pelo português Manuel António Martins e atualmente vive voltada para o turismo. São muitas as lojas de souvenires e os restaurantes com música cabo-verdiana que servem as iguarias típicas da ilha. Há também arte urbana numa combinação de cores vibrantes, a sublimar o espirito de comunidade que por aqui se respira. A não perder.
DESOVA DAS TARTARUGAS
NA PRAIA SERRA NEGRA
Esta foi para nós a mais inesquecível experiência que vivemos na ilha do Sal. Optámos por uma excursão organizada pela SOLFÉRIAS (35€ por pessoa) e só a viagem em si foi uma aventura memorável. Para além do percurso ter sido feito maioritariamente em terra batida, fora de qualquer estrada, por não haver esse tipo de infraestruturas no local, a certa altura, ao chegarmos perto da praia, o nosso guia informou-nos de que a partir daquele ponto o autocarro iria circular sem as luzes ligadas, de forma a não perturbar e confundir as tartarugas que vinham do mar para a praia. Ao chegarmos à praia, sem qualquer iluminação artificial, e sem qualquer nebulosidade, o céu parecia incrivelmente perto e as estrelas eram aos milhares. Um cenário como nunca antes tínhamos visto. A partir daí seguimos em pequenos grupos, em silêncio, às escuras, pela areia da praia, junto ao mar, só com a luz da lua e das estrelas e com o som das ondas a rebentarem, até encontrarmos a primeira tartaruga a desovar. As tartarugas caretta caretta são bastante grandes e estar na presença delas é uma experiência incrível. Ficamos em roda, em torno da tartaruga, durante largos minutos, a vê-la desovar, e depois a vê-la tapar o ninho e regressar ao mar. Há varias associações que trabalham na defesa e proteção deste espécie (Projeto Biodiversidade) e como forma de apoio é possível apadrinhar tartarugas, com direito a batismo e tudo, o que para as crianças é muito compensador. As nossas (tartarugas) chamam-se "Rita" e "Cabeçuda". Para esta experiência é aconselhável roupa escura e calçado confortável (a caminhada é na areia mas por vezes surgem pedras soltas e sem iluminação é fácil tropeçar).
FICAR NO SAL
Optámos pelo RUI PALACE SANTA MARIA para a nossa estadia de 7 noites na ilha do Sal e ficámos francamente muito bem impressionados. O resort é incrível, muito bem cuidado, dotado de excelentes infraestruturas e o serviço é também ele excelente. Desde a receção ao SPA, todos os funcionários são muito simpáticos e verdadeiramente prestáveis. A comida é formidável, muito variada e de ótima qualidade e no restaurante principal é possível experimentar algumas especialidades cabo-verdianas (a cachupa é imperdível). As piscinas são muito bonitas e a água é bem quente, há sempre espaço para todos e encontrámos sempre espreguiçadeiras disponíveis. Os bares junto à piscina são um excelente apoio, especialmente para quem viaja com crianças, há sempre comida disponível a qualquer hora do dia, já para não falar das bebidas, sempre excelentes. A piscina infantil, dotada de vários escorregas é uma enorme mais valia, é impossível as crianças não se divertirem lá. O hotel conta ainda com cabeleireiro, onde é possível fazer as famosas tranças africanas e com um SPA, perfeito para descontrair, seja na piscina interior ou a fazer uma massagem. A praia, claro está, é lindíssima e praticamente inexplorada, mas o mar é um pouco agitado, tem muita ondulação e correntes. Acabámos por fazer praia na vizinha praia de Santa Maria, junto ao pitoresco pontão e aí é bem mais fácil entrar no mar. É um hotel que não desilude mesmo os mais exigentes.
INFORMAÇÔES ÙTEIS & AFINS
Para viajar para Cabo Verde é necessário passaporte e visto de entrada, mas tirando isso, não difere muito de viajar pela Europa. Apesar de a moeda oficial ser o escudo cabo verdiano, o euro é aceite (e bem vindo) em todo o lado e há ATM´S em vários locais (incluindo em alguns hotéis, como no RIU PALACE). É fácil circular pela ilha e as pessoas são afáveis e prestáveis. Os vendedores de rua podem ser um pouco insistentes mas não são invasivos e são bastante educados. Dos nossos passeios pela ilha, guardamos especialmente na memória as viagens que fizemos de táxi. Os carros são bastante velhos e talvez para esconder isso mesmo todo o interior é forrado a pelúcia, parece que estamos noutra dimensão! Em termos de saúde não são necessários grandes cuidados: apenas evitar água não engarrafada e gelo, usar repelente e ingerir bastantes líquidos para evitar desidratar.
Por fim uma curiosidade: em vez da tradicional canela, na ilha do Sal comemos arroz doce decorado com açúcar queimado, como por cá usamos no leite creme. É delicioso.